Cálculo de integrais em limitados de via integrais iterados usando coordenadas cartesianas
Assumindo que uma função é integrável num intervalo limitado de vamos ver ver que é fácil perceber porquê e como reduzimos o cálculo a sucessivas integrações de funções de uma variável em intervalos limitados de . Como protótipo de uma tal situação consideremos uma função integrável no sentido que temos vindo a estudar. Gostaríamos de saber se é legítimo proceder ao cálculo via (a resposta, algo surpreendente, vai ser uma versão rigorosa de "nem sempre, mas quase sempre") no que constitui o análogo infinitesimal de, por exemplo, somar os elementos de uma matriz primeiro por linhas e depois somar a coluna dos totais parciais, i.e.,
Além disso verificaremos que há várias estratégias de como organizar o cálculo, mais ou menos convenientes conforme a geometria do problema.
Como integrar: o teorema de Fubini
O resultado básico sobre cálculo de integrais baseia-se em comparar cuidadosamente somas superiores e inferiores da função com somas superiores e inferiores de outra função que corresponde de alguma forma a já ter-se integrado em relação a algumas variáveis.
Suponhamos que é uma função integrável em um intervalo limitado e fechado de . Numa primeira leitura suponha que e que e são intervalos de mas em geral serão um intervalo de e um intervalo de para um certo . Dado um qualquer , existe uma partição tal que
A partição em pode ser descrita via em que , . Convencionamos que os subintervalos definidos por designam-se em que os são os subintervalos de determinados por e os são os subintervalos de determinados por . Convencionamos também escrever os vectores de na forma com , .
A comparação de somas superiores consiste em em que a função no último membro é definida por .
De forma análoga para as somas inferiores
As desigualdades que estabelecemos garantem então que também donde concluímos que é integrável em . Além disso como podemos concluir que
Com uma ligeira alteração no argumento precedente também se estabelece que e obviamente pode-se trocar o papel desempenhado por e o que resumidamente estabelece
Teorema (de Fubini, cálculo de integrais via integrais iterados.) Seja uma função limitada integrável no produto cartesiano de intervalos limitados e fechados de e de . Então
Exemplo. Consideremos definida por e o integral . Admitindo que sabemos que esta função é integrável (dentro de pouco tempo usaremos o facto da função ser um polinómio de duas variáveis para dizer que é uma função contínua num intervalo limitado e fechado e consequentemente integrável)
[Uma observação sobre notação: aparecer
Exemplo. O exemplo anterior pode ter tornado o leitor algo céptico de que seja de facto preciso considerar integrais superiores e inferiores no enunciado do teorema nesta secção. Vamos ver que de facto tal em geral não é evitável. Seja
Exemplo. Uma outra questão que convém esclarecer para testar os limites do resultado que estabelecemos é saber se da existência de integrais iterados podemos estabelecer a existência do integral original. Seja
Exemplo. Voltemos a considerar a função
Obtemos então, admitindo integrabilidade,
De notar que os integrais iterados usados para efectuar o cálculo são um caso particular de
Fim de exemplo.
Domínios de integração mais complexos que os considerados até agora facilmente podem levar a um volume de cálculos considerável e a considerarmos qual a melhor ordem de integração para proceder aos cálculos.
Exemplo. Seja
O conjunto
Intersectando
[Complete os cálculos. Resolva considerando a outra possível ordem de integração. Note que voltará a encontrar este problema mais à frente quando dispuser de mudanças de coordenadas, o que poupará consideravelmente a extensão dos cálculos a efectuar.]
Fim de exemplo.
A determinação de limites de integração ao integrar em
Exemplo. Considere


O detalhe dos cálculo da determinação dos limites de integração é, conforme o método aplicado,
[Complete os cálculos.]
Fim de exemplo.
Algo que deverá notar como comum em todos os exemplos anteriores é a necessidade de caracterizar os pontos de
Definição (ponto fronteiro e fronteira). Dado
Volumes -dimensionais
Uma das aplicações básicas da integração é o cálculo do volume de conjuntos
Note que em cursos anteriores não se pôs a questão de calcular o comprimento de conjuntos de
No caso
Note que as propriedades já conhecidas do integral dão-lhe propriedades que espera com certeza que a noção de volume tenha. Nomeadamente, sendo
- O volume é sempre maior ou igual a
. Tal decorre trivialmente da definição de integral. - Também decorre da definição de integral que se
contém um intervalo da forma com para cada com então o volume de é minorado por . - O volume é invariante por translacção, isto é, se
e , então também podemos definir o volume de e este é igual ao volume de . Uma forma de obter este resultado neste momento envolve usar o teorema de Fubini e a invariância por translacção do integral em intervalos limitados de .
A última propriedade que citámos e outras, como a invariância por rotação da noção de volume, estabelecer-se-ão mais facilmente quando dispusermos da fórmula de mudança de variáveis na integração.
Fazemos também notar que temos uma propriedade de aditivade de volumes que decorre da aditividade do integral relativamente à região de integração. Mais precisamente, se pudermos definir o volume de um número finito de subconjuntos de
Exemplo. Considere a região de
Para calcular o volume desta região usando integração pela ordem
Exercício. Retome o exemplo anterior determinando os integrais necessários para calcular o volume usando diferentes ordens de integração.
Exemplo (Volume de um tetraedro
Sendo
Para
Suponhamos que o resultado é válido para dimensão
O integral permite o cálculo de inúmeras outras grandezas em mecânica dos meios contínuos, electromagnetismo e outras áreas de aplicação das ciências e da engenharia. Por exemplo, se
Podemos também integrar funções com valores vectoriais (em
Exemplo (Centróide do tetraedro). Calculemos as coordenadas do tetraedro que designámos atrás por
Notando que permutações de
Resta-nos então calcular
Assim o centróide é o ponto com coordenadas
Última edição desta versão: João Palhoto Matos, 01/05/2024 17:07:15.